sexta-feira, 22 de junho de 2018

VIAGEM AO EGITO: O CAIRO,POR JOVINO PEREIRA.


                    Vista da orla mediterrânea de Alexandria a partir da Citadela.


O Cairo é a maior cidade da África, com sua população em torno de 20 milhões de habitantes, algo como a Grande São Paulo. Antes mesmo de partir da tranquilidade do camping em Ras Mohammed, no Sinai, muitas foram as pessoas que disseram: nossa, você vai para o Cairo, boa sorte! Só quando se chega à cidade é que se tem noção do quanto essa frase é correta. A megacidade egípcia é realmente caótica, especialmente o trânsito, completamente alucinante, com um buzinaço que parece não ter fim. Além disso, algumas áreas da cidade estão em tal situação de ruínas que parece mais com áreas bombardeadas.
Claro que para quem está acostumado ao caos urbano das grandes cidades brasileiras o Cairo não é nada assustador, especialmente porque não se tem os mesmos problemas de criminalidade e violência descontroladas com as quais convivemos no Brasil. Nesse sentido, a sensação de segurança na capital egípcia é relativamente boa. Apenas o assédio ao turista que é muito ostensivo. Obviamente que essa cidade, pela sua história, guarda os tesouros de uma das civilizações mais antigas do globo, a começar pelo complexo de Giza, onde ficam as pirâmides mais conhecidas, as de Quéops, Quéfren e Miquerinos.
Um dos aspectos que chamou a atenção foi o fato desse sítio arqueológico de extremo valor estar em péssimas condições de conservação. Após os portões de entrada a multidão de visitantes não possui quase nenhum controle durante a visitação, podendo-se inclusive subir nas ruínas das pirâmides. Além disso, existe uma verdadeira tropa de camelos e cavalos, que estão sempre ao redor dos monumentos, sendo ofertados de forma insistente aos visitantes. Obviamente que isso incomoda, mas não é suficiente para retirar a magnitude do momento. Basta que para isso você saiba duas palavrinhas em árabe: La suhkraan ! [1]
Na cidade do Cairo existem excelentes locais para visitação, como o mercado Khan Al Kalili, que fica numa área com presença muito forte de mesquitas, onde se encontra uma diversidade enorme de produtos típicos egípcios, além de restaurantes onde se pode tomar um autêntico café da manhã com panquecas egípcias ao mel. Uma outra opção é o Museu do Cairo, onde estão expostas grande parte do acervo arqueológico do Egito, com destaque para os sarcófagos dos faraós. Nesse museu também se percebe que essas peças não possuem o cuidado que merecem, com algumas delas armazenadas sem as medidas de preservação necessárias. Uma das peças mais valiosas da coleção, a máscara funerária de Tutancâmon, sofreu um acidente e foi restaurada recentemente.
Uma das melhores formas de se aproveitar a visita ao Cairo é explorar sua rica e diversa culinária, que pode ser mais autêntica e tradicional, como o famoso restaurante com apenas uma opção de prato, o Abou Tarek, até um excelente restaurante libanês nas margens do Rio Nilo, o Taboon Libanese. Na área central da cidade também existem diversas casas onde se pode tomar chá, saborear os doces egípcios especiais, e para aqueles que gostam, fumar a shisha, uma mistura de tabaco com outras ervas aromáticas.
Uma outra recomendação é que estrangeiros devem evitar falar de política no Cairo, uma vez que o país vive sob uma ditadura militar disfarçada de regime presidencialista, que chegou ao poder depois de derrubar o presidente eleito após a primavera árabe no Egito em 2015. Espero abordar esse assunto no próximo artigo. Por hora, o que senti é que o país está realmente dividido, inclusive no Sinai, onde ouvi muitas críticas ao atual governante, o general Sissi, e até mesmo alguma saudade do tempo em que o Sinai era ocupado por Israel.
O sentimento que tive é que existe uma tentativa de mascarar a dura realidade da maioria dos moradores do Cairo, mediante propaganda maciça de um Cairo e de um Egito que só existem nos luminosos outdoors espalhados pelas principais avenidas da cidade, que tentam passar a ideia de um país e de uma cidade que não existem de fato. O que percebi é que na propaganda egípcia observa-se o mesmo fenômeno que no Brasil, atores brancos e loiros, sendo utilizados como tipos idealizados para vender seus produtos a uma população morena e até mesmo negra.
Isso está mais presente nas propagandas da Nova Capital, a New Cairo, a megacidade para 5 milhões de habitantes que está sendo construída no meio do deserto para ser a nova capital administrativa do Egito, uma megaobra de mais de 100 bilhões de dólares, com financiamento chinês, cuja construtora responsável pertence ao Exército egípcio. Essa é uma das marcas da economia egípcia, cerca de 30% do PIB do país são controlados pelo exército, que possui empresas que vão de padarias e hotéis, até construtoras. Isso explica tamanho poder e controle dos militares sobre a vida nacional do Egito.
Durante a estadia no Cairo foi possível fazer uma visita de um dia a Alexandria, no Mediterrâneo, uma cidade muito interessante, especialmente sua história riquíssima, com presença grega e romana, o que a torna uma cidade mais ocidental. Ao final, uma estadia de quatro dias no Cairo se revelou curta, porque à medida que se ambienta na cidade você começa a perceber que existem muito mais tesouros a serem descobertos, e que essa cidade merece ser revisitada, até mesmo como ponto de partida para explorar o Alto Nilo, com suas incríveis cidades da era dos Faraós, como a espetacular Luxor.
1 Não, obrigado!
Beer Sheva/Israel (ponto azul), a Península do Sinai, entre os Golfos de Aqba e Suez, no Mar Vermelho e o Cairo, no Delta do Nilo
                          Ruinas das pirâmades com a cidade de Giza ao fundo.

                         Camelos e cavalos presentes na área do complexo de Giza.

                           Rua do Mercado Khan Al Kalili, vista a partir de um café.

        Visita ao Museu do Cairo: Jovino, Alison Higgins, Patrícia e Jürgen Baumann.

                    Vista da orla mediterrânea de Alexandria a partir da Citadela.


Jovino Pereira da Fonseca Neto é Engenheiro Agrônomo (UFV), Bacharel em Relações Internacionais (UFBA). Possui mestrado em Segurança Internacional e Estudos da Paz pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Portugal. Ocupou o cargo público de Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura em 2002/2003 e desde 2003 é Perito Criminal da Polícia Federal.


Um comentário:

  1. Que riqueza essa viagem à África na Cidade do Cairo! Obrigada Leví por compartilhar. Muito obrigada.

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