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Jovino Pereira (em pé) |
20ª
AGRITECH/ISRAEL 2018
Ocorreu
entre os dias 08 e 10 de maio a 20ª AGRITECH/2018 (Exposição e Congresso Agrícola
Internacional), no Centro de Convenções de Tel Aviv/Israel. Esse é um dos mais
importantes eventos da área de tecnologia agrícola do mundo. A exposição
profissional internacional ofereceu um local de encontro para fabricantes,
pesquisadores, investidores, acadêmicos, compradores e tomadores de decisão que
representam tanto os interesses locais quanto internacionais. A conferência
deste ano teve como tema os desafios singulares enfrentados em vista do
aquecimento global, mudanças climáticas, escassez de água e outros fatores que
contribuem para uma crescente desertificação de terras agricultáveis no mundo.
No congresso, especialistas compartilharam suas pesquisas, observações e
táticas práticas na criação de soluções duráveis para uma agricultura sustentável
em áreas áridas e desérticas.
Foi
realmente incrível entrar em contato com o altíssimo nível de avanço
tecnológico da agricultura em Israel, especialmente no manejo da água para
irrigação e uso dos fertilizantes. Não é à toa que o país possui as empresas
que são líderes globais nesse segmento. O evento foi uma mostra da Revolução
Tecnológica pela qual passa a agricultura. Com o esgotamento do atual paradigma
produtivo vigente da Revolução Verde[1], o
modelo produtivo da agricultura do futuro será com base na agricultura de
precisão ou agricultura inteligente, que está se tornando possível graças à
conjunção de tecnologias de áreas de ciências agrárias, geotecnologias,
mecatrônica e informática. Se na Revolução Verde buscava-se produzir mais com a
aplicação intensiva de insumos, como água, fertilizantes e defensivos químicos,
agora a busca é por produzir mais com menos insumos, por meio do controle
informatizado de todas as variáveis de produção.
O
evento está em sua vigésima edição e atrai pessoas de todo o mundo, inclusive do
Brasil, mas a presença massiva é da Ásia, com muitos chineses e indianos, e de
africanos de várias nacionalidades. Não é à toa o interesse de chineses,
indianos e africanos na tecnologia agrícola israelense. Esses países possuem grandes
extensões de seu território ocupadas por áreas áridas, semiáridas e desérticas.
Além disso, a China que atualmente possui 1,37 bilhão de habitantes, a Índia que
possui 1,34 bilhão e a África que está com 1,3 bilhão, enfrentam desafios
enormes para produzir alimentos e conservar seus recursos naturais. Esses
países da Ásia, principalmente a China, estão se tornando grandes consumidores
mundiais de produtos processados e matérias primas agrícolas, devido ao seu
acelerado desenvolvimento e a criação de uma gigantesca classe média.
Outro
aspecto que chamou muito a atenção foi o fato de Israel ser uma potência
agrícola, mas no campo da tecnologia, ao contrário do Brasil, que é uma
potência agrícola na produção de bens primários de baixo valor agregado. O fato
de ser um país com condições naturais extremamente adversas para a produção
agrícola, com 65% de sua área ocupada pelo Deserto do Neguev, sem dúvida foi um
dos motivos para sua ascensão como líder no segmento de tecnologias agrícolas.
Mas obviamente que essa situação por si só não seria suficiente, se não fosse
uma política agressiva de formação de quadros altamente capacitados e o
espírito empreendedor do produtor israelense. Muitas das grandes empresas
atuais, líderes globais em seus segmentos, nasceram como pequenas associações
para resolver os problemas de seus kibutz[2].
Além disso, as empresas locais foram muito beneficiadas pela tecnologia e pela
mão de obra oriundas das forças armadas, que contam em seus quadros com
excelentes engenheiros mecânicos, eletrônicos e de informática.
Durante
o evento não pude deixar de fazer uma associação dos temas discutidos, tais
como agricultura em áreas áridas e semiáridas e desertificação, com a situação
do Norte de Minas e as dificuldades enfrentadas pelo povo em geral e pelo
produtor rural, em particular. O exemplo de Israel serve muito bem para nos
mostrar que é possível desenvolver-se e gerar riqueza mesmo em áreas com
escassos recursos naturais, principalmente água. No caso do Norte de Minas, a
situação climática é amplamente mais favorável em relação às condições
enfrentadas em Israel, especialmente na região onde me encontro, Beer Sheva, no
deserto do Neguev. Para se ter uma ideia até mesmo trigo se planta aqui, com
variedades desenvolvidas especialmente para o clima seco e frio. A região
possui uma universidade de ponta, a Universidade Bem Gurion, onde está situado
um dos centros mais importantes do mundo em pesquisa de agricultura no deserto.
Sem
dúvida, com investimento em pesquisa e educação, o Norte de Minas e o semiárido
brasileiro como um todo têm muito potencial para se desenvolver e transformar
em grande celeiro. No entanto, não basta produzir matérias primas com baixo
valor agregado. É preciso investir em processamento e transformação. Se
quisermos dar um passo a mais, precisaremos criar a tão sonhada universidade
federal do Norte de Minas, com vocação para produzir soluções e tecnologias
para o semiárido. Dessa forma, poderemos seguir a mesma trilha que o povo
israelense seguiu e nos transformarmos em geradores de tecnologia, que
atualmente são os ativos mais valorizados em termos econômicos.
Jovino Pereira da Fonseca Neto
é Engenheiro Agrônomo (UFV) e Bacharel em Relações Internacionais (UFBA).
Possui mestrado em Segurança Internacional pela Faculdade de Economia da
Universidade de Coimbra/Portugal. Trabalhou no Ministério da Agricultura em
2002/2003 e desde 2003 é Perito Criminal da Polícia Federal.
[1]
Termo utilizado para
designar as transformações tecnológicas pelas quais passou o processo produtivo
na agricultura mundial, a partir da década de 1950, principalmente por meio do
emprego de novos produtos oriundos da indústria química, tais como
fertilizantes e agrotóxicos, além do uso de sementes adaptadas pelo
melhoramento genético.
[2] Comunidade israelense economicamente autônoma com base em
trabalho agrícola ou agroindustrial, caracterizada por uma organização
igualitária e democrática, obtida pela propriedade coletiva dos meios de
produção e da administração conduzida por todos os seus integrantes em assembleias
gerais regulares.
Registro
fotográfico
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Auditório da conferência |
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Área externa da feira com maquinário e implementos |
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Área de exposição de empresas de irrigação e outras tecnologias |
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Netafim, líder global em
irrigação.
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Netafim, líder global em
irrigação.
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Rivulis, desenvolvedora de sistemas informatizados para irrigação, como o aplicativo manna. |
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Volcani, empresa pública de pesquisa agrícola, espécie de Embrapa israelense. |
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Pavilhão com empresas de sementes, nutrição animal e de plantas, projetos, etc. |
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Pavilhão de empresas start-up. Algumas delas poderão ser empresas globais no futuro |
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Aerodrome, empresa de drones para agricultura. |
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Registro da participação no evento. Agricultura do amanhã ao seu lado |
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Pavilhão com empresas de sementes, nutrição animal e de plantas, projetos, etc. |
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