A
CATASTRÓFICA POLÍTICA DE TRUMP PARA O ORIENTE MÉDIO
A
situação política no oriente médio, desde a criação dos atuais Estados após as
duas guerras mundiais, sempre foi explosiva, com sucessivas guerras entre
estados rivais (como a guerra de Israel contra países árabes e a guerra entre Irã
e Iraque) e entre grupos rivais dentro de seus estados (como é a guerra civil
que assola o Iraque, a Síria e agora o Iêmen). Além disso, com as descobertas
de grandes reservas de petróleo na Península Arábica no final da década de 30 a
região passaria por mudanças geopolíticas e econômicas sem precedente. Essa
conjuntura de conflitos está se deteriorando cada vez mais, com uma escalada da
violência e a esperança em arranjos de paz para um futuro próximo está se
afastando de uma solução razoável no turbulento horizonte político da região.
Após
a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos se tornaram a potência hegemônica
mundial e continuam a ser o país dominante até hoje, principalmente em questões
militares e econômicas, embora venham perdendo um pouco de seu domínio para
países como China, na área econômica, e Rússia, na área militar. Por isso,
sempre se colocaram como uma espécie de árbitro para as controvérsias no
Oriente Médio, especialmente na disputa de Israel com Palestinos e com os
países árabes que fazem fronteira com seu território. No entanto, mesmo as
administrações democratas de Barack Obama, nas quais se depositavam mais
esperanças para levar paz à região, não lograram êxito em distensionar os
conflitos e deixaram para seu sucessor, Donald Trump, um grande imbróglio
geopolítico. O maior deles sem dúvida é a Guerra Civil na Síria, que já dura
sete anos, e aos poucos vem tomando contorno de uma guerra regional, e mesmo um
balão de ensaio para uma guerra entre Estados Unidos e Rússia.
Apenas
para citar algumas decisões, veremos que todas as ações do governo americano
foram no sentido de provocar mais tensões, conflitos e mortes, demonstrando
claramente que sua velha estratégia de interferência política em questões
internacionais segue o mesmo padrão de sempre, que vigorou durante toda a
Guerra Fria. No decorrer da Guerra Civil na Síria e no Iraque, houve uma clara
decisão de permitir que o Estado islâmico conquistasse posições e se
fortalecesse, para enfraquecer a resistência do Governo de Bashar Al Assad. A
bilionária venda de armas para a Arábia Saudita, considerada a maior transação
desse gênero na história, vai cumprir esse objetivo, o de armar aliados e
forças que auxiliem na derrubada de governos contrários aos interesses
americanos na região.
Em
outra ação, em 14 de abril de 2018, foi realizado um ataque com mísseis a
partir de várias bases e navios americanos, franceses e ingleses contra alvos
na Síria, em resposta a um suposto ataque com armas químicas ocorrido em 07 de
abril, em Douma, subúrbio de Damasco, contra alvos rebeldes, que teriam matado
40 civis. Organizações internacionais, como a OPAQ, não conseguiram comprovar a
veracidade das acusações. Esse bombardeio segue o padrão de outros que vêm
ocorrendo na Síria desde o início da guerra civil, que tem com alvos quase
sempre bases aéreas e unidades militares, que em muitos casos servem para
fustigar as forças armadas sírias, mas também seus aliados iranianos e russos,
num claro recado de que os Estados Unidos e Israel farão de tudo para evitar o
entrincheiramento desses países em solo sírio.
Mapa
mostra como foi o ataque dos EUA, França e Reino Unido, em 14/05, contra alvos
na Síria.
Nas
duas últimas semanas, sobretudo, Donald Trump jogou suas cartas mais
importantes na sucessão de ações que ele vem implementando para a política do
Oriente Médio, em estreita sincronia com o Primeiro Ministro israelense
Benjamim Netanyahu, que foram a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear
com o Irã e a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém,
num reconhecimento tácito de que a capital de Israel é Jerusalém. É importante
ressaltar que essas duas ações não obtiveram a aprovação e apoio das principais
potências aliadas dos Estados Unidos, nem do Conselho de Segurança da ONU, os
quais rechaçaram ambas, pois elas ampliam sensivelmente as tensões entre árabes
e judeus.
Essas
duas ações foram sucedidas por um endurecimento da postura de Israel e seus
governantes sionistas em relação ao conflito com palestinos e em relação à
guerra de dissuasão que se move contra o Irã em território sírio. Após a
assinatura do decreto presidencial por Donald Trump, que retirou os Estados
Unidos do acordo nuclear com o Irã, em 8 de maio, Israel lançou o maior ataque
até agora contra alvos iranianos na Síria, no dia 10 de maio. Antes disso, em
30 de abril, o Primeiro Ministro havia feito uma apresentação bastante
midiática dos supostos arquivos do programa nuclear iraniano, retirados de
Teerã pelo serviço secreto israelense, o Mossad, durante a qual afirmou que o
Irã estaria desenvolvendo um programa nuclear secreto para a produção de armas
nucleares. O que se percebe é que Netanyahu e Trump estão jogando em sintonia
muito afinada e cada passo é precedido de ações de grande repercussão
midiática.
Presidente
Trump assina decreto de retirada dos Estados Unidos do Acordo Nuclear com Irã.
Netanyahu apresenta arquivos nucleares
iranianos no Ministério da Defesa em Tel Aviv.
No
dia 14 de maio foi inaugurada a nova embaixada dos Estados Unidos em Israel,
que fora transferida de Tel Aviv para Jerusalém. Desde a criação do Estado de Israel que
existe um consenso internacional para que Jerusalém seja dividida entre árabes
e judeus, de forma que a capital formal de Israel seja Tel Aviv. Trump rompeu essa
tradição e causou grande descontentamento, mesmo entre os aliados árabes e
europeus dos Estados Unidos. A reação palestina foi imediata e massivas
manifestações ocorreram tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia (West
Bank). Essa data também marca a independência de Israel para os judeus ou a
Nakba (catástrofe) para os árabes palestinos, expulsos aos milhares de suas
terras após o início da guerra árabe-israelense de 1948.
Enquanto
ocorria uma cerimônia de pompa em Jerusalém, com diversos oradores fazendo
referências religiosas de paz e moral, que mais se assemelhava a uma
inauguração de uma sinagoga, não fosse o fato de homens e mulheres estarem
sentados misturados, dezenas de palestinos foram mortos pelo exército
israelense em Gaza, em um verdadeiro banho de sangue, em claro uso desproporcional
da força. O massacre em Gaza foi prontamente reprovado internacionalmente, por
parte da mídia, por parte dos israelenses e dos judeus americanos. No entanto,
a inauguração da embaixada foi um claro sinal de que Netanyahu e seus ministros
sionistas se sentem livres para levar a cabo a política de guerra total contra
palestinos e seus inimigos na síria e Líbano, o Hezbollah e o Irã.
Comparação
entre o que ocorria em Jerusalém e o que ocorria na fronteira de Gaza com
Israel. Conforme descrição do jornal Haaretz, a demonstração do eixo messiânico
EUA-Israel na inauguração da embaixada foi um soco no estômago dos judeus
americanos.
Acaba
de ser anunciado que a administração Trump apresentará após o Ramadã, em 15 de
junho, um novo Plano de Paz para o Oriente Médio. O que se espera é que vá na
mesma linha das atuais ações, pendendo claramente para o lado israelense na
questão palestina, inclinando para a oposição na Síria e se posicionando contra
qualquer pretensão iraniana de se tornar um país com liderança no mundo árabe,
apostando no seu aliado saudita para ocupar esse papel. Ao final, todos devem
estar atentos para o desdobramento dessa situação, porque a Rússia já
demonstrou que não pretende abrir mão de sua presença na região, e que já
possui lado no conflito, conforme deixou claro Vladimir Putin em visita de
Benjamim Netanyahu a Moscou, em 09 de maio. Caso os Estados Unidos não adotem
uma postura de entendimento e conciliação, menos confrontacionista e belicista,
podemos assistir à escalada do conflito, com consequências arrasadoras para o
conjunto da humanidade. O que todos esperamos e queremos é paz, Shalom!
Jovino Pereira da Fonseca Neto é Engenheiro Agrônomo (UFV) e Bacharel em Relações Internacionais (UFBA). Possui mestrado em Segurança Internacional pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Portugal. Trabalhou no Ministério da Agricultura em 2002/2003 e desde 2003 é Perito Criminal da Polícia Federal.
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