quarta-feira, 23 de maio de 2018

JOVINO PEREIRA apresenta A CATASTRÓFICA POLÍTICA DE TRUMP PARA O ORIENTE MÉDIO.



A CATASTRÓFICA POLÍTICA DE TRUMP PARA O ORIENTE MÉDIO

A situação política no oriente médio, desde a criação dos atuais Estados após as duas guerras mundiais, sempre foi explosiva, com sucessivas guerras entre estados rivais (como a guerra de Israel contra países árabes e a guerra entre Irã e Iraque) e entre grupos rivais dentro de seus estados (como é a guerra civil que assola o Iraque, a Síria e agora o Iêmen). Além disso, com as descobertas de grandes reservas de petróleo na Península Arábica no final da década de 30 a região passaria por mudanças geopolíticas e econômicas sem precedente. Essa conjuntura de conflitos está se deteriorando cada vez mais, com uma escalada da violência e a esperança em arranjos de paz para um futuro próximo está se afastando de uma solução razoável no turbulento horizonte político da região.
Após a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos se tornaram a potência hegemônica mundial e continuam a ser o país dominante até hoje, principalmente em questões militares e econômicas, embora venham perdendo um pouco de seu domínio para países como China, na área econômica, e Rússia, na área militar. Por isso, sempre se colocaram como uma espécie de árbitro para as controvérsias no Oriente Médio, especialmente na disputa de Israel com Palestinos e com os países árabes que fazem fronteira com seu território. No entanto, mesmo as administrações democratas de Barack Obama, nas quais se depositavam mais esperanças para levar paz à região, não lograram êxito em distensionar os conflitos e deixaram para seu sucessor, Donald Trump, um grande imbróglio geopolítico. O maior deles sem dúvida é a Guerra Civil na Síria, que já dura sete anos, e aos poucos vem tomando contorno de uma guerra regional, e mesmo um balão de ensaio para uma guerra entre Estados Unidos e Rússia.
Apenas para citar algumas decisões, veremos que todas as ações do governo americano foram no sentido de provocar mais tensões, conflitos e mortes, demonstrando claramente que sua velha estratégia de interferência política em questões internacionais segue o mesmo padrão de sempre, que vigorou durante toda a Guerra Fria. No decorrer da Guerra Civil na Síria e no Iraque, houve uma clara decisão de permitir que o Estado islâmico conquistasse posições e se fortalecesse, para enfraquecer a resistência do Governo de Bashar Al Assad. A bilionária venda de armas para a Arábia Saudita, considerada a maior transação desse gênero na história, vai cumprir esse objetivo, o de armar aliados e forças que auxiliem na derrubada de governos contrários aos interesses americanos na região.
Em outra ação, em 14 de abril de 2018, foi realizado um ataque com mísseis a partir de várias bases e navios americanos, franceses e ingleses contra alvos na Síria, em resposta a um suposto ataque com armas químicas ocorrido em 07 de abril, em Douma, subúrbio de Damasco, contra alvos rebeldes, que teriam matado 40 civis. Organizações internacionais, como a OPAQ, não conseguiram comprovar a veracidade das acusações. Esse bombardeio segue o padrão de outros que vêm ocorrendo na Síria desde o início da guerra civil, que tem com alvos quase sempre bases aéreas e unidades militares, que em muitos casos servem para fustigar as forças armadas sírias, mas também seus aliados iranianos e russos, num claro recado de que os Estados Unidos e Israel farão de tudo para evitar o entrincheiramento desses países em solo sírio.

Mapa mostra como foi o ataque dos EUA, França e Reino Unido, em 14/05, contra alvos na Síria.

Nas duas últimas semanas, sobretudo, Donald Trump jogou suas cartas mais importantes na sucessão de ações que ele vem implementando para a política do Oriente Médio, em estreita sincronia com o Primeiro Ministro israelense Benjamim Netanyahu, que foram a retirada dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã e a transferência da embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém, num reconhecimento tácito de que a capital de Israel é Jerusalém. É importante ressaltar que essas duas ações não obtiveram a aprovação e apoio das principais potências aliadas dos Estados Unidos, nem do Conselho de Segurança da ONU, os quais rechaçaram ambas, pois elas ampliam sensivelmente as tensões entre árabes e judeus.
Essas duas ações foram sucedidas por um endurecimento da postura de Israel e seus governantes sionistas em relação ao conflito com palestinos e em relação à guerra de dissuasão que se move contra o Irã em território sírio. Após a assinatura do decreto presidencial por Donald Trump, que retirou os Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã, em 8 de maio, Israel lançou o maior ataque até agora contra alvos iranianos na Síria, no dia 10 de maio. Antes disso, em 30 de abril, o Primeiro Ministro havia feito uma apresentação bastante midiática dos supostos arquivos do programa nuclear iraniano, retirados de Teerã pelo serviço secreto israelense, o Mossad, durante a qual afirmou que o Irã estaria desenvolvendo um programa nuclear secreto para a produção de armas nucleares. O que se percebe é que Netanyahu e Trump estão jogando em sintonia muito afinada e cada passo é precedido de ações de grande repercussão midiática.
Presidente Trump assina decreto de retirada dos Estados Unidos do Acordo Nuclear com Irã.
 Netanyahu apresenta arquivos nucleares iranianos no Ministério da Defesa em Tel Aviv.


Ilustração dos ataques israelenses contra alvos iranianos em bases militares sírias. Fonte: https://www.haaretz.com/middle-east-news/syria/explosions-reported-in-assad-army-base-north-of-homs-syria-1.6035801

No dia 14 de maio foi inaugurada a nova embaixada dos Estados Unidos em Israel, que fora transferida de Tel Aviv para Jerusalém.  Desde a criação do Estado de Israel que existe um consenso internacional para que Jerusalém seja dividida entre árabes e judeus, de forma que a capital formal de Israel seja Tel Aviv. Trump rompeu essa tradição e causou grande descontentamento, mesmo entre os aliados árabes e europeus dos Estados Unidos. A reação palestina foi imediata e massivas manifestações ocorreram tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia (West Bank). Essa data também marca a independência de Israel para os judeus ou a Nakba (catástrofe) para os árabes palestinos, expulsos aos milhares de suas terras após o início da guerra árabe-israelense de 1948.
Enquanto ocorria uma cerimônia de pompa em Jerusalém, com diversos oradores fazendo referências religiosas de paz e moral, que mais se assemelhava a uma inauguração de uma sinagoga, não fosse o fato de homens e mulheres estarem sentados misturados, dezenas de palestinos foram mortos pelo exército israelense em Gaza, em um verdadeiro banho de sangue, em claro uso desproporcional da força. O massacre em Gaza foi prontamente reprovado internacionalmente, por parte da mídia, por parte dos israelenses e dos judeus americanos. No entanto, a inauguração da embaixada foi um claro sinal de que Netanyahu e seus ministros sionistas se sentem livres para levar a cabo a política de guerra total contra palestinos e seus inimigos na síria e Líbano, o Hezbollah e o Irã.
Comparação entre o que ocorria em Jerusalém e o que ocorria na fronteira de Gaza com Israel. Conforme descrição do jornal Haaretz, a demonstração do eixo messiânico EUA-Israel na inauguração da embaixada foi um soco no estômago dos judeus americanos.

 Ao final fica a pergunta: o que move Donald Trump em sua política para o Oriente Médio? Em primeiro lugar o principal motivo de sempre é garantir a primazia americana sobre o bilionário negócio do petróleo no oriente médio, seus contratos e acesso irrestrito de suas empresas aos campos de petróleo e suas rotas de escoamento. Em segundo está o interesse do complexo industrial-militar americano, o maior do mundo, que fatura somas bilionárias com a venda de armas para os países e aliados do oriente médio, entre eles a gigantesca venda de armas para a Arábia Saudita, inimiga declarada do Irã. Por último, mas que ao mesmo tempo perpassa os dois motivos anteriores, está a tentativa de Trump e Netanyahu de utilizar a guerra como estratégia política interna, uma vez que ambos enfrentam processos e acusações de fraudes e corrupção, ambos com baixo apoio popular.
Acaba de ser anunciado que a administração Trump apresentará após o Ramadã, em 15 de junho, um novo Plano de Paz para o Oriente Médio. O que se espera é que vá na mesma linha das atuais ações, pendendo claramente para o lado israelense na questão palestina, inclinando para a oposição na Síria e se posicionando contra qualquer pretensão iraniana de se tornar um país com liderança no mundo árabe, apostando no seu aliado saudita para ocupar esse papel. Ao final, todos devem estar atentos para o desdobramento dessa situação, porque a Rússia já demonstrou que não pretende abrir mão de sua presença na região, e que já possui lado no conflito, conforme deixou claro Vladimir Putin em visita de Benjamim Netanyahu a Moscou, em 09 de maio. Caso os Estados Unidos não adotem uma postura de entendimento e conciliação, menos confrontacionista e belicista, podemos assistir à escalada do conflito, com consequências arrasadoras para o conjunto da humanidade. O que todos esperamos e queremos é paz, Shalom!
                                                         



Jovino Pereira da Fonseca Neto é Engenheiro Agrônomo (UFV) e Bacharel em Relações Internacionais (UFBA). Possui mestrado em Segurança Internacional pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Portugal. Trabalhou no Ministério da Agricultura em 2002/2003 e desde 2003 é Perito Criminal da Polícia Federal.

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