quinta-feira, 3 de maio de 2018

JOVINO PEREIRA NUMA VIAGEM AO EGITO: A PENÍNSULA DO SINAI



VIAGEM AO EGITO: A PENÍNSULA DO SINAI

Conhecer o Egito, especialmente as pirâmides de Giza, é sem dúvida um grande acontecimento na vida de qualquer pessoa, pela importância histórica do país e pelo simbolismo que essas construções milenares ocupam no imaginário de todos nós. O país possui inúmeros sítios e tesouros arqueológicos de altíssimo valor, que são o testemunho da civilização surgida no vale do Rio Nilo, principalmente em seu delta, no encontro com o Mar Mediterrâneo. Apesar do vale do Nilo ser a região mais conhecida do Egito, a Península do Sinai, atualmente, também ocupa lugar de destaque no turismo, devido a suas belezas incomparáveis, especialmente nas localidades do Golfo de Aqba, tais como Dahab, Ras Mohammed, Sharm El Sheik, as montanhas e o Deserto do Sinai.
A região do Sinai, apesar de desértica, possui uma importância estratégica e geográfica inigualáveis, pois é a conjunção entre a Ásia e a África e a ligação entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho, através do Canal de Suez, e deste com o Oceano Índico. A construção do canal causou enorme mudança na navegação mundial, e provocou uma disputa militar em torno de sua operação entre o Egito e potências ocidentais aliadas a Israel. Além disso, a região possui enorme riqueza mineral, com petróleo, ouro, água doce, presentes no subsolo das montanhas do Sinai. Por isso a enorme disputa que sempre existiu pelo controle dessa área, seja pelo Império turco-otomano, seja pelo império britânico, seja pela ocupação israelense na guerra dos seis dias, em 1967, com sua posterior devolução ao Egito, após o tratado de 1979.
Em três artigos vou descrever e relatar uma viagem de dez dias ao Egito. O primeiro será sobre os locais visitados na Península do Sinai, região pela qual chegamos ao país; o segundo sobre o delta do Nilo, que inclui o Cairo e Alexandria. No terceiro artigo pretendo tratar da situação política no Egito. Esse interesse surgiu porque chegamos ao país no dia 28 de março, um dia após a eleição presidencial de 2018. O que mais chamou a atenção foi a enorme quantidade de cartazes com a foto do atual presidente, o general Abdul Al-Sissi, em diversas ruas das cidades, sem aparecer fotos de outros candidatos, e um aparato de segurança militar muito ostensivo em todas as vias de circulação.


Existem duas opções principais para se chegar ao Sinai, via Cairo ou via Eilat/Israel. A saída foi de Beer Sheva para Eilat, na fronteira, e depois de passar por Taba, já no Egito, seguimos para Dahab. Ao chegarmos no lado egípcio, tivemos a sorte de conhecer uma israelense que mora em Dahab e nos ofereceu uma carona. Fizemos um trajeto de cerca de 140 km, à noite, passando pelo meio das montanhas desérticas, com a lua crescente, cenário que não ficaria a dever para filme nenhum. Obviamente, um pouco de apreensão também estava presente, a começar pelos vários pontos de controle com presença de militares e policiais, muitos à paisana. Além disso, à noite não se encontra praticamente ninguém na estrada e nessa região já ocorreu casos de ataques a turistas ocidentais por grupos extremistas islâmicos.
Dahab é uma cidade pequena da Península do Sinai, que fica nas margens do Golfo de Aqba, no Mar Vermelho. É um conhecido destino turístico dos ocidentais devido à qualidade e beleza impressionante de suas águas para o mergulho, com barreiras de corais com cores muito variadas, proporcionadas pelo clima desértico ao redor do Mar Vermelho, e um excelente local para praticar esportes à vela. Apesar de pequena, a cidade concentra pessoas de várias partes do mundo, sendo possível encontrar desde chineses e indianos, a alemães e ingleses, assim como uma culinária bastante diversa e rica. Mesmo israelenses judeus, com seus tradicionais kipás podem ser vistos na orla da cidade. Apesar de já ter havido ataques contra turistas no local, o clima de segurança é relativamente bom.
Dahab e montanhas do Sinai a partir da praia do Ecotel

Saída para o mergulho em Dahab (Jovino e Alison Higgins)

Golfo de Aqba/Mar Vermelho, com as montanhas da Arábia Saudita ao fundo, a partir da orla de Dahab.

Mergulho em profundidade de 12 metros (Jovino e Alison Higgins)

Os atrativos turísticos de Dahab também incluem trilhas e passeios pelas montanhas, principalmente a visita ao mosteiro de Santa Catarina, uma das mais importantes referências ao cristianismo na região, construído próximo ao Monte Sinai. Para os mais aventureiros é possível conseguir uma viagem auxiliada por guias locais que fazem o transporte em camelos ou em veículos de tração. Se houver ainda mais disposição pode-se alugar bicicletas e pedalar ao longo da orla da cidade, com uma parada inesquecível na Laguna, com sua água azul turquesa, e o vento soprando nas velas dos inúmeros windsurf e kitesurfs.

Laguna de Dahab, com praticantes de kitesurf, e as montanhas ao fundo.

Laguna de Dahab, com praticantes de kitesurf, e o afloramento de corais

Laguna de Dahab, com praticantes de windsurf, a cidade e as montanhas ao fundo.

Depois de Dahab o próximo local visitado foi o Parque Nacional Ras Mohammed (cabeça de Mohammed), na extremidade sul da península, considerado um dos pontos mais bonitos do mundo para mergulho. Nesse local não existem hotéis, mas como opção de hospedagem há um camping beduíno, com excelentes acomodações e uma equipe muito prestativa, de um casal formado por um egípcio e uma holandesa. Esse local também está muito próximo de Sharm El Sheik, cerca de 20 km, cidade tipicamente de balneário, com seus megaresorts para turistas europeus, o que foge um pouco de quem procura algo mais autêntico, como Dahab, ou mais natural, como o camping de Ras Mohammed.
Extremo sul do Sinai, Sharm El Sheik e Ras Mohammed National Park. 
Entrada do Parque Nacional Ras Mohammed.

Camping mantido pelo casal Mohammed e Ville.

Praia em frente ao Camping.

Vista da praia em frente ao camping.


No final, ainda foi possível pegar um voo de Sharm el Sheik direto para o Cairo, com duração de 1h, o que é incomparável às 12 horas de viagem de ônibus tipicamente egípcia, com muito barulho a bordo e suas constantes paradas em postos de controle militares, conforme nos relatou um casal que conhecemos no camping, uma brasileira e um suíço, com os quais voltamos a nos encontrar no Cairo. No próximo artigo pretendo descrever a visita ao Cairo e Alexandria, locais que podem ser considerados um outro Egito, a região do delta do Nilo, com outra cultura, diferente da cultura beduína do Sinai.

Jovino Pereira da Fonseca Neto é Engenheiro Agrônomo (UFV), Bacharel em Relações Internacionais (UFBA). Possui mestrado em Segurança Internacional e Estudos da Paz pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra/Portugal. Ocupou o cargo público de Fiscal Federal Agropecuário do Ministério da Agricultura em 2002/2003 e desde 2003 é Perito Criminal da Polícia Federal. 


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